Neste trabalho de residência, Hằng Hằng continua a explorar questões da sua própria existência, desta vez focando-se na linguagem que ela fala: Chữ Quốc Ngữ, a língua nacional vietnamita, criada no
contexto de complexas transformações históricas e substituindo a Hán Nôm, uma escrita mais antiga baseada em ideogramas chineses, cujo envolvimento foi para Hằng Hằng um desafio. Com base no manuscrito Manuductio ad linguam Tunckinensem – A Method to Study Tonkinese, particularmente na representação dos tons da língua vietnamita numa escala musical, Hằng Hằng transformou o Gia Định báo, o primeiro jornal impresso em Chữ Quốc Ngữ, numa escala musical, gravada em clarinete. A performance começa com a leitura do jornal com música, usando ambos como formas de expressão, resistência e rearranjo. Pretende-se ainda a reprodução dos documentos que a artista vem colecionando, através do processo de cianotipia. Reunir materiais, aplicar produtos químicos, secar, expor à luz solar, lavar, secar novamente e, finalmente, aplanar — este processo reproduz os documentos e está aberto a perturbações, convidando à reflexão sobre o conceito de arquivo e sobre a sua transmissão, bem como a natureza incerta da memória e da história.
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Hang Hang (Vietname, 1995) é uma artista visual, performer e cenógrafa, mestre em Cenografia pela École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs de Paris, Hằng Hằng esbate as fronteiras entre teatro,instalação e performance, examinando a micro-história e a história oral. O seu trabalho explora os traumas intergeracionais do povo vietnamita, que sofreu violentos conflitos e deslocações, e ainda o patriarcado. Movendo-se entre o documentário e as paisagens imaginárias, cria espaços sensoriais que fundem realidade, sonhos e magia. Hằng Hằng é fundadora do coletivo Phu Lang Sa Collabtive, uma comunidade de jovens artistas vietnamitas que vivem no estrangeiro, principalmente em França. Os seus trabalhos pessoais foram apresentados no Théâtre de l’Aquarium, Poush Aubervilliers, Galerie BAQ em Paris, e na Documenta 15, como parte do programa de artistas emergentes do Coletivo Nhà Sàn Collective, em Hanói. Em 2023, participou no CommonLAB, um laboratório móvel instalado em quatro locais: MC93 em Bobigny, Riksteatern em Estocolmo, festival D-CAF no Cairo e festival Alkantara em Lisboa.